Um dos meus filmes favoritos, que também foi um filme de artes marciais de sucesso nos anos 80, é O Grande Dragão Branco (Bloodsport). É aquele filme que você sabe o que vai acontecer nos mínimos detalhes de cada cena, sabe os diálogos…. Como uma boa amante de filmes de artes marciais, isso acontece comigo direto.
E uma coisa curiosa, acredito que todos que assistiram viram isso no final do filme, é que ele se baseia numa história real de Frank Dux, o ninja americano. Fui atrás de informações para confirmar a veracidade do filme, a cara real dos personagens retratados no filme e até mesmo saber como foi o torneio mais secreto, o Kumite.
Investigando mais a fundo a vida de Frank Dux, comecei a perceber que vários sites apontaram controvérsias a respeito de histórias contadas por ele. Alguns sites apontaram provas contundentes que Frank Dux sempre mentiu. Vou tentar resumir aqui algumas histórias mais relevantes e fazer alguns contrapontos do filme.
Mas primeiro, vamos fazer um breve resumo a respeito de sua história, ou pelo menos da sua origem. Ele nasceu em Abril de 1956, em Toronto, no Canadá. Quando ele tinha uns 7 anos, ele mudou para a Califórnia com a família. Agora vamos para algumas controvérsias.
Mestre Senzo Tanaka
No filme, Dux acaba invadindo uma casa que seria do seu mestre Senzo Tanaka. Dux é descoberto e acaba sendo treinado pelo mestre. Na história contada por Frank Dux, aos 16 anos ele foi levado para Masuda, no Japão, para treinar ninjutsu com, segundo ele, Senzo “Tiger” Tanaka, que foi um professor muito famoso da 40ª geração de decendentes de ninjas. A ideia da invasão retratada no filme foi ideia do produtor, segundo ele.
Em uma das entrevistas feita por John Johnson, do Los Angeles Times, ele comenta com Frank Dux que não achou nenhum registro em livros ou com especialistas de artes marciais a respeito de Senzo Tanaka. Dux responde que não sabia do paradeiro dele e se ele ainda estava vivo, mas anos depois ele muda a sua versão e diz que o último desejo de Tanaka era que ele competisse no Kumite. Em 2017, Dux diz que achou a certidão de óbito de Tanaka, e nela constava que ele havia morrido em Los Angeles em 1975, mas em 2016 acaba dando outras informações alegando que ele morreu no Japão. Até hoje não há registro de que ele realmente existiu.
John Johnson também comenta com Frank Dux que o seu mestre tem o mesmo nome do comandante ninja do romance de James Bond de Ian Fleming, You Only Live Twice, mas rebatendo o comentário, Dux alega que o autor costuma basear seus personagens em pessoas reais.
Vale destacar que na época que o filme Bloodsport saiu nos cinemas, em 1988, Dux abriu sua primeira academia de artes marciais em Los Angeles, Califórnia, e ele ensinou seu próprio estilo de luta, o Dux Ryu Ninjutsu, que foi baseado, segundo ele, nos princípios básicos do Koga Ninja de Ko-ryū.
Carreira Militar e no Serviço Secreto da CIA
Frank Dux serviu na Reserva de Fuzileiros Navais dos EUA de 1975 a 1981. Ele diz que foi para missões no sudeste asiático e chegou a receber uma medalha de honra. Além disso, ele alega ter sido recrutado pelo diretor da CIA (Agência Central de Inteligência), William J. Casey, para trabalhar como agente secreto.
Isso foi até contato em um livro escrito por Dux, The Secret Man, onde ele conta algumas missões como destruir um depósito de combustível na Nicarágua e uma fábrica de armas químicas no Iraque. Esse livro teve o prefácio escrito pelo Tenente Comandante Larry Simmons, que alegou, após a publicação do livro, que foi enganado, pois seu agente literário, o mesmo de Dux, pediu para ele escrever um prefácio genérico para o livro. Simmons também saiu em uma foto com Dux onde ele apresentava o livro. Na sua legenda Dux alega estar conversando sobre negócios com o líder da SEAL, mas foi desmentida também por Simmons, que acusa Dux de ser um vigarista.
O filme retrata que ele era um valioso agente que fugiu do serviço militar para competir no torneio. Tanto que foi perseguido por dois agentes da policia para impedir que competisse. Mas não existe nenhum registro que ele era um agente da CIA. E os dois agentes que o perseguiram no filme, foi idéia do produtor, segundo Dux.
Kumite
E o Kumite? Será que realmente existiu esse campeonato? Ao que tudo indica, não.
Quando Frank Dux supostamente competiu nesse torneio, ele foi realizado originalmente nas Bahamas em 1975. O interessante é que o torneio é secreto, mas após a sua vitória, Frank Dux disse que foi autorizado a dar detalhes do campeonato até para divulgar o evento para novos competidores. Mas voltando às Bahamas, primeira questão controversa na história é que o próprio ministro dos esportes do país, o Kenneth Wilson disse que seria impossível manter secreta uma competição nessa magnitude.
Outro ponto a ser questionado é o troféu que Dux havia ganhado no torneio. Segundo John Johnson, do Los Angeles Times, ele comprou o troféu em uma loja. Além disso, Dux afirma que ele não tem mais a espada que ele ganhou na cerimônia, porque ele vendeu para tentar salvar órfãos de um barco pirata nas Filipinas.
Dux chegou a indicar um homem que conheceu no Kumite, chamado Richard Robinson, para provar que realmente ele esteve no torneio. Robinson chegou a confirmar a participação de Frank Dux no evento, mas depois de descobrirem que ele e Dux estudaram juntos, Robinson disse: “Tudo bem, não sei o que dizer… Frank era um amigo meu quando eu estava em Los Angeles”. Toda essa história deu a entender que Frank Dux solicitou que Richard Robinson mentisse.
Com tantas evidências, fica difícil dizer que Frank Dux realmente participou de um Kumite, e toda essa história não passa de uma ficção criada por ele mesmo. Pode ser que ele tenha sido campeão em algum torneio e quebrado alguns recordes, mas é difícil provar.
Vale destacar que toda essa história só entrou em conhecimento público após John Stewart publicar um artigo sobre Frank Dux e o Kumite na revista Black Belt, em 1980 (revista digitalizada aqui). Porém o próprio autor do artigo se disse arrependido, em 1988, por ter sido ingênuo em acreditar em Dux e também por tantas questões que foram levantadas, indicando informações falsas a respeito do lutador e do torneio.
Verdade ou não, essa história rendeu um bom roteiro para um grande clássico de filmes de artes marciais dos anos 80.